O ano de 2020 foi a prova de que as novas tecnologias mudaram a forma como as pessoas se capacitam. O momento também reforçou a importância da aquisição de novos conhecimentos e habilidades para otimizar o desempenho no ambiente virtual e digital . O contexto pandêmico, vivenciado pelo mundo nesse ano também trouxe a urgência na digitalização dos processos. Desde os mais simples relacionados às tarefas burocráticas, até os determinantes para as boas práticas de comunicação dialógica. Como resultado, foi acelerada a transformação digital dos serviços oferecidos à sociedade, tirando o servidor e cidadãos dos balcões de atendimento com a automatização de processos de serviços públicos, integração de dados e soluções mobile.
Naquele ano, vimos o Ministério Público de Santa Catarina acelerando para a jornada de Transformação Digital, o Tribunal de Contas do Estado de Goiás ganhou em produtividade com automação de processos e o título concedido para Florianópolis como a cidade com o processo de abertura de empresas mais rápido do país.
Porém, este contexto tem um preço: todas a transformações tecnológicas ao longo dos séculos impuseram transformações no perfil de competências do trabalhador e esta não está sendo diferente.
O futuro do trabalho
O relatório The Future of the Jobs 2020, do World Economic Forum, aponta que a força de trabalho está sendo automatizada mais rapidamente do que o esperado. De acordo com o estudo, nos próximos cinco anos 85 milhões de empregos serão automatizados. Os resultados do estudo realizado em 26 países emergentes evidenciam:
- O ritmo de adoção de tecnologia deve permanecer inalterado e pode acelerar em algumas áreas.
- As lacunas de competências continuam a ser altas.
- Apesar da atual crise econômica, o investimento em capital humano é reconhecido.
- As empresas precisam investir em melhores métricas de capital humano e social por meio da adoção de métricas ambientais, sociais e de governança.
- O setor público precisa fornecer um apoio mais forte para a requalificação de trabalhadores deslocados.
Novas habilidades do servidor público do futuro
Considerando a tendência mundial de teletrabalho ou trabalho híbrido, parte em casa parte no escritório, desenvolver habilidades pessoais para melhor performance no ambiente de trabalho, nunca foi tão importante para o servidor público. O procurador do Trabalho Paulo Douglas confirmou à Agência Brasil que o teletrabalho já vem surgindo como uma tendência, não só no Brasil, mas no mundo.
A educação formal que, para o Ministério da Educação e Cultura (MEC) é aquela que ocorre nos sistemas de ensino tradicionais e, por isso dependente de uma estrutura presencial estabelecida e de uma figura que ensine, professor ou mediador, já não basta para atender a atualização constante das transformações no trabalho. A grande diferença agora é o reconhecimento da educação não formal que para o MEC, são as iniciativas de aprendizagem, que acontecem fora do sistema, ou mesmo a educação informal que, para o ministério, é a incidental e que ocorre ao longo da vida. Estas novas modelagens são centralizadas no aprendiz, autoguiadas, comportamentais e, conhecidas também como Soft Skill.
Novas Competências do Servidor Público brasileiro
A palavra da especialista Patrícia de Sá Freire, Dra.
No contexto complexo que estamos vivenciando, comprovou-se a urgência de um novo modelo de governança pública, a qual chamamos de Governança Multinível. Um tipo de governança compartilhada que não elimina a hierarquia, controles e comandos superiores, mas é dependente do estabelecimento de visão compartilhada, de controles baseados em dados e evidências e, principalmente, de gestores educadores, resilientes e adaptativos, direcionados ao alinhamento coletivo em prol do bem comum.
Por isso, além das básicas competências técnicas, gerenciais e comportamentais de um bom servidor público, destaquei abaixo as 8 skills que passam a ser consideradas competências críticas ao gestor público.
- Promover a governança multinível: ter uma visão compartilhada das muitas estruturas da força de trabalho e atuar com objetivo global.
- Conhecer as boas práticas de governança pública e de sistemas de inteligência: ter capacidade analítica e interpretação de dados.
- Controlar e monitorar resultados e impacto social: promover a mudança de mindset, pensar sempre em governo digital e na experiência do usuário.
- Comunicação dialógica: ser claro, promover o diálogo, evitar conflitos e ser resolutivo.
- Fazer uma gestão colaborativa: ter raciocínio voltado para a resolução de problemas.
- Participação proativa em redes organizacionais: ampliar repertório, aprender e ensinar.
- Transparência nas tomadas de decisões gerenciais: as ações tomadas pelos agentes públicos visam o bem da sociedade e não há motivos para que suas ações não sejam de conhecimento geral.
- Flexibilidade, fácil adaptação frente às mudanças e novos rumos: aqui citada por último, mas não a menos importante. Talvez a única competência do servidor público que nenhuma educação formal ensine, mas um skill importante e muito valorizada no atual cenário mundial.
Com certeza, mais do que ter, é ser verdadeiramente ético e integro para atuar com desempenho competente, de maneira a se tornar exemplo aos membros de sua equipe e da sociedade.
“Para a nova era, urge o desenvolvimento de gestores públicos com a capacidade de autoavaliação continua para romper com modelos mentais bloqueadores de mudanças e inovações. O novo gestor público está nascendo no Brasil.”
Novo mindset
No âmbito público a necessidade de novo mindset por parte dos agentes e servidores públicos já faz parte da cartilha do Governo Federal que, entre vários materiais educativos, criou uma trilha com 10 passos para a transformação digital, que fomenta o novo comportamento do servidor público, mais ágil, tecnológico e com foco na resolução de problemas.
No Setor Público, as soluções desenvolvidas pela Softplan e já implementadas em várias instituições apoiam a virada de chave de muitas instituições. Além de entregar tecnologia, a empresa conta com uma área de educação corporativa que promove a capacitação e as melhores práticas para a utilização das ferramentas tecnológicas, promovendo novas competências do servidor público e contribuindo para a nova mentalidade de um governo cada vez mais digital.
Patrícia é Doutora, mestre e pesquisadora de Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC). Consultora para reestruturação organizacional.