Maior parte das localidades pelo país enfrenta problemas fiscais graves, potencializados pela pandemia. Especialistas apontam que eleitos terão de fazer correções na Previdência, cortar despesas e atrair investimentos privados.
A maior parte dos municípios brasileiros está quebrada. As administrações enfrentam problemas fiscais graves, com excesso de pessoal, ineficiência na gestão, saúde precária, educação em frangalhos e serviços ruins. A pandemia agravou ainda mais o quadro, que será herdado pelos prefeitos eleitos neste domingo ou no próximo dia 29. Isso deve intensificar a pressão sobre o governo federal, a partir do ano que vem, segundo especialistas. Os analistas apontam que, para superar as adversidades, os vencedores do pleito terão de promover correções na Previdência, implementar sistemas de gestão com uso de tecnologia, reduzir a burocracia para melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos privados e cortar despesas.
Para o secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, os prefeitos eleitos deveriam governar com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) sobre a mesa. Segundo ele, os gestores terão de conter as despesas com pessoal, sustando novas contratações e aumentos salariais; reduzir a quantidade de cargos comissionados; reequilibrar os gastos previdenciários e enxugar as despesas administrativas, entre outras providências imediatas. “Essas medidas, entretanto, não são populares. Resta saber, portanto, se os prefeitos eleitos vão trilhar o caminho da austeridade e da responsabilidade fiscal ou se farão aventuras populistas” afirma.
De acordo com pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), três em cada quatro municípios brasileiros apresentam gestão fiscal em dificuldades ou em situação crítica. E um terço das cidades do país não se sustenta, já que a receita gerada localmente não é suficiente para custear a Câmara de Vereadores e a estrutura administrativa da prefeitura. Os alertas são do Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) 2019. O estudo faz referência a 2018 e avalia as contas de 5.337 municípios, que concentram 97,8% da população brasileira.
Na opinião do professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Calmon, parte da crise dos municípios decorre do aumento da despesa e outra parte, da queda de arrecadação. “A pandemia deve ter reduzido ainda mais a receita. A crise econômica começou em 2015. Desde então, o país vinha se recuperando de forma muito lenta e acabou afundando com o coronavírus”, avalia. A recuperação depende do governo federal, da economia mundial e da crise sanitária. “Está fora do controle dos prefeitos. Os ajustes que eles podem fazer são poucos e difíceis, porque há pressão para aumento de despesa e queda de arrecadação”, diz.
Para Calmon, é perigoso reduzir pessoal, neste momento, porque o desemprego está alto. “Os municípios vão precisar de ajuda do governo federal, mas falta uma estratégia nacional para enfrentar as crises sanitária e econômica. Não há muita margem de manobra para os prefeitos eleitos”, explica.