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Insights

Transformação Digital no Ministério Público: 5 motivos para colocar o cidadão no centro

Renato Paquer
24 de abril de 2025 Tempo: 5 minutos
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A Transformação Digital do Ministério Público não pode ser reduzida à simples digitalização de processos. Isso porque ela precisa, essencialmente, gerar valor real para o cidadão, facilitando o acesso à Justiça, promovendo transparência e aumentando a eficiência das entregas e resultados.

Transformar digitalmente o Ministério Público exige mais do que adotar novas tecnologias: requer uma escuta ativa e permanente do cliente, que neste caso são as pessoas diretamente impactadas pelas soluções implementadas. É preciso compreender que a escuta é constante, não pontual.

Essa não é apenas uma escolha estratégica. É, sobretudo, um compromisso ético com a sociedade que servimos.

Por que o cidadão deve estar no centro da Transformação Digital?

A centralidade do usuário é a base para qualquer iniciativa digital bem-sucedida. Isso porque, quando partimos das reais necessidades da população, as soluções deixam de ser meramente tecnológicas e passam a ser instrumentos de cidadania e inclusão.

Confira os 5 motivos abaixo:

  1. Relevância e eficiência, porque as soluções passam a resolver desafios concretos da sociedade;
  2. Adesão e satisfação, pois os serviços públicos tornam-se mais fáceis, ágeis e intuitivos de utilizar;
  3. Transparência e acessibilidade, princípios fundamentais de uma instituição que presta contas ao público;
  4. Melhoria contínua, pois a cultura do feedback alimenta um ciclo de evolução constante. A experiência do usuário passa a orientar ajustes e inovações com base no que realmente importa;
  5. Inovação com propósito, já que quando escutamos o cidadão desde o início, criamos soluções com foco claro — o que evita desperdícios e aumenta as chances de sucesso na adoção de novas tecnologias.

Qual ponto da jornada digital está o Ministério Público?

O estágio de Transformação Digital no Ministério Público ainda é heterogêneo, com variações importantes entre diferentes unidades federativas. No entanto, alguns padrões são visíveis nacionalmente:

  • Automatização inicial de processos: muitos MPs já substituíram práticas manuais por sistemas digitais, promovendo ganhos iniciais de eficiência;
  • Integração e colaboração: existe um avanço para sistemas mais conectados, que permitem a troca de informações entre setores e instituições;
  • Foco no cidadão: embora ainda em estágio inicial, há um movimento claro rumo à valorização da experiência do usuário como eixo norteador das decisões tecnológicas;
  • Tecnologias emergentes: ferramentas de inteligência artificial e análise de dados começam a ser exploradas para apoiar a atuação jurídica com mais precisão e agilidade.

Esses elementos sinalizam que os MPs têm trilhado um caminho promissor, mas que ainda há muito para evoluir, especialmente se o intuito for construir uma transformação verdadeiramente centrada no cidadão.

O desafio na atividade finalística

Levando em consideração a atividade-fim dos Ministérios Públicos, ou seja, a atuação direta em defesa dos direitos da sociedade, os desafios da Transformação Digital enfrentados são particularmente complexos:

  • Infraestruturas tecnológicas desiguais, que dificultam a padronização e evolução dos sistemas;
  • Gargalos de capacitação, pois o avanço tecnológico requer um novo perfil de servidor público, mais familiarizado com a inovação e a linguagem digital;
  • A necessidade urgente de sistemas integrados, capazes de conectar informações, acelerar o trabalho jurídico e facilitar a cooperação interinstitucional;
  • E uma mudança de cultura, onde dados e evidências passem a guiar decisões, diagnósticos e estratégias de atuação.

Importante pensar que a Transformação Digital não é um fim em si mesma, já que ela precisa estar a serviço do propósito institucional dos MPs: garantir justiça, direitos e cidadania para todos.

Planejamento reverso: começando pelo cidadão

Destaco aqui uma abordagem que considero cada vez mais necessária: o planejamento reverso.

Ao invés de partir da tecnologia para depois pensar no usuário, devemos começar a partir da experiência do cidadão e construir as soluções a partir disso.

Esse modelo traz uma série de vantagens, mas destaco 3:

  1. Evita desperdício de recursos em soluções que não atendem a problemas reais;
  2. Aumenta a probabilidade de sucesso na adoção das tecnologias, já que estas estarão alinhadas às expectativas do público;
  3. Fomenta inovação com propósito, centrada em quem mais importa: o usuário.

Transformar digitalmente a partir da ótica do usuário é como projetar uma ponte, mas não do ponto de vista do engenheiro, e, sim, da perspectiva de quem precisa atravessá-la todos os dias. É entender as dores, os caminhos, os obstáculos, e, então, desenhar soluções verdadeiramente úteis.

O papel do usuário entre processos e tecnologia

O cidadão não é um espectador da Transformação Digital — ele é agente essencial dessa mudança. Seu papel é múltiplo:

  • Como fornecedor de feedback, ajuda a corrigir rotas e a identificar pontos cegos nos sistemas;
  • Como catalisador de mudanças, suas necessidades pressionam por melhorias e inovações;
  • Como co-criador de soluções, pode participar de testes, oficinas, pesquisas e avaliações, contribuindo com visões que só ele tem;
  • Como mediador de eficiência, suas percepções revelam se os processos realmente estão funcionando como deveriam.

Essa visão do usuário como parte integrante dos processos tecnológicos ainda precisa ser mais difundida nas instituições públicas. Em vez de pensar para o usuário, é preciso pensar com o usuário.

Mais do que tecnologia, uma mudança de mentalidade

Colocar o usuário no centro da Transformação Digital do Ministério Público é, acima de tudo, um chamado à mudança de cultura institucional.

Não se trata apenas de criar novos sistemas, mas de reposicionar o nosso olhar: do interior da organização para o exterior, das estruturas para as pessoas, da tecnologia para o propósito.

O futuro do Ministério Público digital não será definido pelas ferramentas que são utilizadas, mas pelos problemas que são resolvidos para a sociedade. E isso só será possível quando os MPs ouvirem, incluírem e priorizarem quem mais importa nessa equação: o cidadão.

A reflexão que você leu até aqui foi compartilhada por mim durante o 9º Enastic – Encontro Nacional de Tecnologia da Informação dos Ministérios Públicos, realizado em Fortaleza (CE), em março deste ano.

Este debate é essencial, já que a Transformação Digital é um caminho sem volta, mas que só valerá a pena se for trilhado de mãos dadas com quem mais precisa dos nossos serviços: os cidadãos.

Renato Paquer é formado em Ciência da Computação, com especialidade em Governança de TI e Arquitetura de Software, Cybersecurity e Data Science pela PUC-PR. Com 17 anos de experiência no setor da justiça, onde atuou em diversos projetos de transformação digital e inovação. Em sua carreira atuou também com liderança de equipes ágeis, gerenciamento de projetos, gestão e governança em tecnologia da informação. Está na Softplan como Head da vertical de Ministérios Públicos.

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